Nunca tive o costume de ler livros. Tenho bastante vergonha disso, mas a verdade é que nunca tive muita paciência e fora os livros obrigatórios da escola, sempre fiz minhas escolhas baseadas no número de páginas.
Tive sorte que “Submarine” e “O Menino do Pijama Listrado” são livros curtinhos e pouco assustadores, mas admito que nunca tinha me aventurado em uma leitura que durasse mais de 1 mês.
Em outubro fomos passar 10 dias no chipre e com medo de ficar entediada enquanto tomava sol na praia, resolvi pegar um livro gigante para ler: Os Pilares da Terra.
Assim que peguei o livro nas mãos tive certeza que não ia terminar de ler. Para quem acha 200 páginas muito, um livro de 1080 era um desafio grande demais.
Sem costume de ler em casa e pegando no livro só na hora de pegar o metro/trem/avião/praia/tédio, demorei quase 4 meses para passar pelas temidas 1080 páginas, 1/3 de ano!
Nos últimos dois dias devorei umas 100 páginas de uma só vez, mas não porque estava hiper legal, mas porque eu queria acabar logo já que estava maluca para assistir o seriado baseado no livro.
Acabei o livro em uma sexta feira e passei o sábado inteiro (8 horas) assistindo a mesma história na TV.
Gostei muito do livro e gostei muito do seriado, mas de maneiras diferentes. Finalmente entendi o que tanto reclamam de filmes e seriados que são ou não fiéis aos livros.
Nos primeiros capítulos senti uma certa “raivinha” já que o seriado cortou alguns personagens e algumas passagens do livro, mas depois de alguns capítulos ficou claro que Ken Follet (autor tanto do seriado quanto do livro) encarou essa nova versão da história como uma chance de “arrumar” todos os problemas do livro e ele fez isso muito bem.
Minha maior crítica com o seriado é a falta de complexidade dos personagens. O livro retrata maravilhosamente todos os personagens, apresentando os medos, anseios e inseguranças de cada um deles. A ambiguidade de todos eles também é muito bem exposta no livro.
Phillip por exemplo não é todo tão bonzinho quanto no seriado, em algumas ocasiões ele se deixa levar pelo seu maior pecado, o orgulho. Waleran é extremamente ambicioso e não mede esforços para conseguir o que deseja, mas não é essencialmente mal como no seriado. O pai de Aliena, no livro, gosta muito da filha mas, apesar de deixar ela não se casar com William, não fica feliz com o resultado como no seriado.
Alfred se torna uma pessoa muito pior no livro e a relação dele com Jack é muito pior no livro também. No seriado nada disso foi muito aprofundado, tanto que tiveram que mudar o final do moço para fazer sentido. Mas o que mais me deixou chateada foi a mudança em William. No livro ele é um diabo, não literalmente, mas quase. Ele faz tudo o que faz porque ele odeia Aliena, Richard, Phillip e Jack. O mais interessante é que a gente conhece suas inseguranças, seus medos de queimar no inferno e isso tudo traduz em um William que teve uma mãe manipuladora e que tem tanto medo de tudo que se tornou a pessoa mais cruel de todo o livro. No seriado William não passa de um pau mandado de uma mãe e de Waleran e pior que isso, inventaram uma desculpa para ele ser tão ruim, o abuso sexual da mãe.
Com a falta de complexidade de todos esses personagens o seriado todo fica muito mais simplificado. No livro não sabemos quem é bom e quem é mal, vamos aprendendo aos poucos, mas no seriado tudo isso é atirado nas nossas caras, especialmente quando tratamos dos reis.
O livro também é melhor para explicar as coisas, no seriado, especialmente no início, tudo acontece tão rápido que eu não tenho certeza que alguém que não tenha lido o livro entenda facilmente.
Mas calma, não estou dizendo que o livro é melhor que o seriado, porque não é. O livro é mias complexo e faz com que a gente se apaixone mais pelos personagens, mas por outro lado o livro enrola muito. Páginas e páginas de descrição de cada estilo de cada catedral é bastante cansativo. Além disso existem muitas “cenas inúteis” no livro.
Em filmes e seriados, aprendemos a cortar as coisas. Cortar as enrolações, cortar tudo que não seja relevante à história. No livro tem muitas, mas muitas coisas que são legais, mas que não levam a lugar nenhum.
Com alguns novos elementos, como o anel do príncipe, inseridos no seriado, as coisas foram desenroladas um pouco mais rápido e sem dúvida o maior mérito do seriado é ter arrumado o final da história. No livro os vilões são pegos um por um, em cenas longuíssimas e isso atrapalha muito o ritmo da história. Sempre que eu lia pensava que estava acabando e cada vez os bonzinhos tinham mais um obstáculo e os malvados fugiam.
Cada problema no livro é tratado de forma separada e com muitos personagens importantes, o clímax do livro fica dividido em umas 300 páginas e isso deixou o final muito pior do que poderia ser. O seriado consegue unir todas essas 300 páginas em uma só cena e consegue fazer isso muito bem, resolvendo o maior problema do livro.
O livro é muito bom e prende a leitura até de quem não gosta tanto de ler, mas se você está com extrema preguiça veja o seriado que, apesar de ser uma versão mais simplista, consegue trazer os pontos mais importantes da história com um ritmo muito melhor.
http://www.imdb.com/title/tt1453159/